Uma introdução
Em um mundo acelerado pela inovação e pelo constante apelo ao novo, a busca por equilíbrio entre a tradição e a modernidade surge como um desafio fundamental. A filosofia da praxis, tão discutida nos círculos acadêmicos, encontra no cotidiano das pessoas um palco para o seu desdobramento prático, onde a ação e a contemplação tecem a tapeçaria da experiência humana.
Ao considerarmos o papel da família, da fé e da valorização intrínseca do ser humano, somos convidados a olhar além do imediatismo do capitalismo e da utopia do socialismo. Ambos, em seus extremos, tendem a reduzir o complexo mosaico humano a meras transações de valor ou a estatísticas de produção. Porém, há uma senda menos percorrida, aquela que reconhece a profundidade da tradição sem negar os ventos da mudança.
Nessa via, o conservadorismo não é sinônimo de estagnação, mas sim de preservação daquilo que provou ser essencial ao longo do tempo: o respeito pela dignidade humana, a importância dos laços comunitários e o reconhecimento das diversas expressões de fé. Tal conservadorismo não implica na rejeição dos avanços tecnológicos ou sociais; ao contrário, ele busca assimilá-los sem perder de vista os pilares que sustentam a identidade e o bem-estar coletivos.
A liberdade, valor supremo das sociedades modernas, não deve ser confundida com a libertinagem ou a ausência de limites. Ela coexiste com a responsabilidade e com o entendimento de que a liberdade de um termina onde começa a do outro. Em uma sociedade equilibrada, a liberdade individual floresce dentro de um jardim cultivado por normas e valores compartilhados, que asseguram o respeito mútuo e a harmonia social.
Portanto, o desafio que se apresenta é o de tecer uma narrativa coletiva que respeite a singularidade, mas que também celebre a nossa interconexão. Um tecido social onde a inovação não desfia os fios do respeito mútuo e onde o progresso não desbota as cores da tradição. A crônica do nosso tempo, então, poderia ser uma de equilíbrio: onde o conservador não é o inimigo do progressista, nem o tradicional o adversário do moderno. Ao invés disso, cada um é o complemento necessário do outro, em uma dança de ideias e valores que, em última análise, busca o bem comum.
Este é o equilíbrio conservador moderno: uma ode à liberdade que não prescinde do passado, mas que olha para o futuro com esperança, prudência e, acima de tudo, com profundo respeito pela jornada humana.
A Coroa e o Compasso
Na tapeçaria do tempo, a monarquia se assemelha a um fio dourado que corre através dos séculos, entrelaçando o passado com o presente e propondo um futuro onde a estabilidade e a continuidade são as guardiãs das esperanças de uma nação. É uma forma de governo que, quando temperada pelo respeito às liberdades civis e moldada por uma constituição justa, pode oferecer um contraponto à efemeridade das políticas partidárias e aos ciclos eleitorais frequentes que muitas vezes priorizam o ganho imediato sobre o bem-estar a longo prazo.
Em uma monarquia constitucional que respeita os princípios democráticos, o monarca serve como um símbolo unificador, acima das disputas partidárias, e como uma lembrança viva das tradições e histórias que definem uma nação. A monarquia pode encarnar o equilíbrio conservador, preservando os valores fundamentais enquanto abraça a mudança progressiva, assegurando que nenhuma seja abrupta ou desrespeitosa com o tecido social.
A coroa não deve ser uma gaiola dourada que confina o espírito da liberdade, mas um farol que ilumina o caminho para uma sociedade que honra sua herança ao mesmo tempo que olha corajosamente para o futuro. Assim, o papel de um monarca não é o de governar, mas de orientar; não é de mandar, mas de moderar e inspirar.
Nesta visão contemporânea, o palácio real não se ergue como um bastião de poder absoluto, mas como o lar de uma tradição que oferece continuidade. A realeza, portanto, caminha lado a lado com o povo, refletindo suas aspirações e zelando pelas liberdades que permitem a cada cidadão escrever sua própria história dentro da grande narrativa nacional.
Dentro deste quadro, onde a soberania do povo e a dignidade da coroa coexistem, a monarquia pode ser vista não como um anacronismo, mas como uma ponte entre eras, uma âncora em tempos turbulentos, e um lembrete de que algumas coisas, como a dignidade humana e o bem comum, devem permanecer imutáveis, mesmo quando as ondas da modernidade batem nos portões do reino.
Por Dom Eduardo I, Duque de Avis
Crônicas e pensamentos extraídos de estudos a Filosofia, do tratado 11 “Tese sobre Feuerbach” de Marx, Praxis e Theoria de Olavo de Carvalho, e o materialismo nos dias atuais sob a ótica do imediatismo, e as Origens monárquicas da Casa de Avis