Entre todos os nomes que surgem na minha árvore genealógica, alguns me chamam não apenas pela grandeza, mas pela força simbólica que carregam. E poucos representam isso como Pedro e Inês.

Ele, Dom Pedro I de Portugal – rei, filho de D. Afonso IV, homem de palavra, impetuoso, violento e fiel àqueles que amava.

Ela, Inês de Castro – dama castelhana, jovem, nobre, educada, mas acima de tudo, vítima do amor que não aceitou se curvar à razão de Estado.

Não conto essa história como quem lê um livro de reis. Conto como descendente. Como quem carrega nas veias algo desse drama ancestral. Algo dessa paixão que desafiou o trono, o tempo, e até a morte.

O Amor que Desafiou o Reino

Pedro conheceu Inês ainda jovem. Ela fazia parte da corte e servia como dama de honra de sua esposa legítima, Constança. Mas não foi com a esposa que o príncipe dividiu sua alma. Foi com Inês. E quando Constança morreu, ele recusou-se a casar com outra. Preferiu viver com Inês às margens da corte, como se ela fosse sua esposa de fato.

Tiveram filhos. Fundaram, em silêncio, uma pequena corte dentro da corte – mas sem aceitação pública. E o preço viria.

A Espada do Estado

O pai de Pedro, D. Afonso IV, pressionado pelos nobres e temendo as influências castelhanas que cercavam Inês, tomou a decisão que mudaria tudo: mandou matá-la.

Ela foi executada em Coimbra, diante de seus filhos pequenos, dizem alguns. Mataram-na com uma espada, como se eliminassem um perigo político. Mas era mais que isso: mataram um elo entre duas almas.

Pedro nunca mais foi o mesmo.

A Vingança e a Coroação da Morte

Quando se tornou rei, dois anos depois, ele cumpriu sua promessa de vingança. Mandou capturar os assassinos de Inês e os condenou com a mesma fúria com que amara: teve seus corações arrancados – um gesto que diz muito mais do que a justiça real. Era o símbolo de uma dor que não se continha.

Mas Pedro foi além: mandou desenterrar Inês, vestiu-a com trajes reais e colocou-a no trono, obrigando todos os nobres da corte a beijar-lhe a mão em reverência. Ela, que em vida fora desprezada, tornou-se rainha depois da morte. E repousa até hoje, ao lado de Pedro, no mosteiro de Alcobaça – com seus túmulos virados um para o outro, como se esperassem o dia da ressurreição para se reencontrarem primeiro com o olhar.

O que Fica

Essa história sempre me inquietou. Porque não a leio como um conto distante, mas como parte da minha própria linha. Eles não são símbolos para mim – são sangue. São pedra no caminho que me trouxe até aqui. E se carrego algo deles, talvez seja essa mistura de intensidade e fidelidade que tantas vezes reconheci em mim mesmo.

Dom Pedro e Inês marcaram Portugal com uma história única: onde amor, morte e poder colidiram e deixaram um rastro eterno. Um rei que coroou a mulher que amava depois de morta. E uma mulher que virou rainha quando já não podia mais sorrir.

É por eles que abro esta série. Porque se herdei algo desta linhagem, foi a certeza de que a verdade de uma alma vale mais que o protocolo de uma corte.

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