Sempre soube, desde cedo, que o tempo não é feito apenas de relógios. Há outra medida, mais silenciosa, mais profunda, que se move dentro de nós. Um fio invisível que nos liga àquilo que veio antes, mesmo quando não sabemos nomear o que sentimos.

Esse fio me puxou por anos. A princípio, como uma curiosidade: de onde vim? Quem veio antes de mim? Mas não demorou para que essa pergunta se tornasse outra coisa. Não era mais apenas um exercício de genealogia, era um chamado.

Porque a verdade é que muitos dos que vieram antes não foram apenas nomes em papéis. Eles construíram reinos, derrubaram muros, atravessaram desertos, foram coroados e também decapitados. Houve santos e traidores, amantes e ascetas, cavaleiros e navegadores. Homens que juraram fidelidade diante do altar, e outros que fugiram com nomes falsos para terras desconhecidas. Alguns morreram em silêncio, outros com o peso de suas escolhas carregado até o fim.

E de alguma forma, por mil caminhos, casamentos, perdas e sobrevivências, todos eles chegaram até mim.

Alguns deixaram registros oficiais, reconhecidos por historiadores, monarcas e chancelerias. Outros foram costurados por genealogistas independentes, com paciência, cruzando fragmentos, brasões, batismos e julgamentos esquecidos. Há verdades e há sombras. E mesmo estas últimas me pertencem.

Porque eu sou descendente de reis, mas também de quem perdeu o direito ao nome.

Sou herdeiro de honra, e de ruína.

Carrego em mim o aço das espadas e o eco dos cânticos em mosteiros.

Sou o fruto de mil pactos, de alianças feitas e desfeitas, de guerras vencidas e de terras abandonadas.

E, acima de tudo, sou o que permaneceu.

Não escrevo para vanglória. Escrevo porque não quero que a poeira apague tudo.

Escrevo porque quero ver, em mim, o reflexo dos que vieram antes, e, talvez, deixar aos que virão depois algo mais do que silêncio.

Esta série é o registro de alguns desses nomes. Alguns foram célebres, outros se apagaram com o tempo. Mas todos, de alguma forma, me marcaram. E por isso, merecem ser lembrados.

Sejam bem-vindos à minha linhagem.

Não a que se exibe, mas a que carrega consigo a memória de séculos.

É por eles que escrevo.

É por mim que começo.

O que você achou disso?

Clique nas estrelas

Lamentamos que este post não tenha sido útil para você!

Vamos melhorar este post!

Diga-nos, como podemos melhorar este post?